Primeiro-ministro português insta BCE a ter cuidado na subida das taxas de juro

Por Sérgio Gonçalves

LISBOA (Reuters) – O primeiro-ministro português, António Costa, exortou o Banco Central Europeu a ser cauteloso ao elevar as taxas de juros de níveis excepcionalmente baixos, embora não espere um aumento significativo nos empréstimos inadimplentes para famílias em seu país.

O Banco Central Europeu afrouxou o apoio à política no ano passado e elevou as taxas de juros em um total de 125 pontos-base em suas duas últimas reuniões, o ritmo mais rápido de aperto da política até o momento.

Costa disse que “entende a lógica da normalização da política monetária”.

“(Mas) acho que o Banco Central Europeu, com toda a sua independência, deve ter cuidado ao aumentar as taxas de juros para controlar a inflação”, disse ele a repórteres.

O Banco Central Europeu tem como meta uma inflação de 2% no médio prazo, mas a taxa na zona do euro foi de 10% no mês passado.

Costa disse que o Banco Central Europeu deve ter em mente que “a inflação não é resultado de um aumento da oferta monetária e da renda das pessoas”.

Ele disse que a inflação se deve mais a choques do lado da oferta, como a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que “exacerbou as interrupções nas cadeias de suprimentos, que já estavam em vigor no período pós-pandemia, e criou uma crise de energia”.

Costa disse que as famílias com hipotecas de taxa variável, que representam mais de 90% do saldo de 1,4 milhão de hipotecas do país, “devem estar cientes de que as taxas de juros estão em tendência ascendente”.

Mas ele não se preocupou muito, observando que o aumento esperado dos empréstimos inadimplentes durante a pandemia não se concretizou.

Os bancos portugueses ainda estão se recuperando da crise da dívida e de um aumento repentino dos empréstimos inadimplentes após a recessão de 2010-2013. Desde então, eles reduziram os empréstimos inadimplentes para um total de 11,4 bilhões de euros (US$ 11,3 bilhões) em junho de 2022, de um pico de 50 bilhões de euros em junho de 2016, segundo os dados mais recentes do Banco de Portugal.

O crédito vencido dos bancos portugueses representava 3,4% do crédito total em junho, face a 17,9% em meados de 2016, mas superior à média europeia de 1,95%.

(1 dólar = 1,0133 euros)

(Reportagem de Sérgio Gonçalves; Edição de Marcos Potter)

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